terça-feira, 4 de junho de 2013

Pessoa de bem.


Só faz o mal quem ignora, sentenciava Sócrates, pelo que, o sábio deveria ter por principal cuidado espancar as trevas intelectuais; com a luz a refulgir, reinaria, por via de consequência a virtude.

Ideal racionalista, que atravessou séculos e anima ainda o sonho pueril e perigoso do cientificismo; sob forma aliás descaída, pois que Sócrates pelo menos ensinava moral, enquanto o ingênuo cientificista se lhe afigura regenerar o mundo espargindo cultura -- como se a barbárie científica não fosse uma realidade.

A quem vive perdido na utopia, mostram os fatos a possibilidade de percebermos claramente a verdade moral, desobedecendo-lhe todavia. Não apenas a inteligência, senão ainda vontade livre, tal é o homem. Conheça embora os preceitos da ética e lhes admita a validade, pode ainda contrariá-lo, pecar.

Para não falar em Ovídio, já o experimentava São Paulo: "O querer está em mim, não consigo realizar o bem; porque não faço o bem que desejo, mas o mal que não quero, esse faço" (Rm 7, 18-19).

Afagaria pois, perigosa ilusão, quem cuidasse que a instrução religiosa por si só deveria de gerar católicos sem jaça. Aí está a triste e cotidiana experiência a patentear como profundo conhecimento do dogma e da moral é compatível com medíocre vida cristã. Todos nós já encontramos católicos esclarecidos que prevaricam quando podem. De ordinário culpam-se os métodos catequéticos, a pedagogia cristã. Revela esta crítica profunda ilusão. A força de agir sobre a matéria bruta com resultados infalíveis, imaginamos poder atingir igual "eficiência" no trato com homens. Esquecemos que estes não são máquinas, mas sim pessoas livres. O pedagogo, ainda quando logra em rara vez -- penetrar além da superfície do eu, vê escapar-lhe a região tenebrosa onde se entrincheira, inviolável, o livre arbítrio, com o seu poder de resistir ao mesmo Deus. Porventura não era Jesus o sumo pedagogo? Não formou os Doze com zelo clarividente e indefesso, ensinando-lhes as mais sublimes doutrinas, obrando diante deles os mais estupendos milagre, arrastando-os pelos mais comovedores exemplos, Seduzindo-os pela magia de sua personalidade? Não obstante, houve entre os Doze um traidor. Judas deveria ter exterminado para sempre o Socratismo.

(Iniciação Teológica, Pe Penido)